Na dinâmica de transferência e transposição de modelos de cientificidade próprios às ciências exatas, a teoria matemática da comunicação ocupa, a partir dos anos 40, um papel central. Em 1948, o americano Claude Elwood Shannon publica uma monografia intitulada The Mathematical Theory of Communication. No ano seguinte, essa monografia é publicada pela Universidade de Illinois, acrescida dos comentários de Warren Weaver, coordenador, durante a Segunda Guerra, da pesquisa sobre as grandes máquinas de calcular. Matemático e engenheiro elétrico, Shannon foi admitido em 1941 pelos laboratórios Bell, onde trabalhou especialmente na área de criptografia. É por ocasião desse trabalho sobre os códigos secretos que ele formula hipóteses encontradas em sua teoria matemática da comunicação. O objetivo de Shannon é delinear o quadro matemático no interior do qual é possível quantificar o custo de uma mensagem, de uma comunicação entre os dois pólos desse sistema, em presença de perturbações aleatórias, nomeadas “ruídos”, indesejáveis porque impedem o “isomorfismo”, a plena correspondência entre os dois pólos. Quer diga respeitos a relações que implicam máquinas, seres biológicos ou organizações sociais, o processo de comunicação responde a esse esquema linear que faz da comunicação um processo estocástico, ou seja, afetado por fenômenos aleatórios, entre um emissor que tem liberdade para escolher a mensagem que envia e um destinatário que recebe essa informação com suas exigências. O modelo finalizado de Shannon induziu a uma abordagem da técnica que a reduz a um instrumento. Essa perspectiva exclui toda a problematização que definiria a técnica em outros termos que não os de cálculo, planejamento e predição. A teoria matemática da comunicação forneceu aos especialistas em biologia molecular um quadro conceitual para dar conta da especificidade biológica, do caráter único do indivíduo. Em 1993, em Modern Theories of Development, o biólogo Ludwig Von Bertalandffy lançara as bases do que ele formaliza no pós guerra como “teoria dos sistemas”. Uma teoria cujos princípios forneceram um instrumento de ação mobilizado para fins estratégicos durante a Segunda Guerra. O sistemismo e o funcionalismo partilham pois um mesmo conceito fundamental, o de função, a indicar o primado do todo sobre as partes. A ambição do sistemismo é pensar a globalidade, as interações entre os elementos mais do que as causalidade, apreender a complexidade dos sistemas como conjuntos dinâmicos de relações múltiplas e cambiantes. A ecologia da comunicação é a ciência da interação entre espécies diferentes no interior de um dado campo. Essa ecologia deveria comportar ramos diferentes. A primeira possui como unidade o ser individual e ocupa-se da interação entre as modalidades de sua comunicação em sua esfera tempo e em sua esfera espaço. O segundo ramo se refere à organização dos sistemas de transação entre seres, ao condicionamento do planeta por meio de canais múltiplos que pões as mensagens em circulação. A informação deve poder circular. A sociedade da informação só pode existir sob a condição de troca sem barreiras. Ela é por definição incompatível com o embargo ou com a prática do segredo, com as desigualdades de acesso à informação e sua transformação em mercadoria. A essência da comunicação reside em processos relacionais e interacionais. Todo comportamento humano possui um valor comunicativo; observando a sucessão de mensagens situadas no contexto horizontal e no contexto vertical, é possível deduzir uma “lógica da comunicação.” Enfim, as perturbações psíquicas remetem a perturbações da comunicação entre o indivíduo portador do sintoma e seu meio. À noção de comunicação isolada como ato verbal consciente e voluntário, que subjaz à teoria funcionalista, opõe-se a idéia da comunicação como processo social permanente que integra múltiplos modos de comportamento: a fala, o gesto, o olhar, o espaço interindividual.
Victória Pereira Araújo Lima